Um megaempreendimento turístico previsto para a comunidade de Cova da Onça tem dividido opiniões desde março de 2023, quando o governo estadual autorizou o licenciamento ambiental do condomínio turístico Ponta dos Castelhanos, numa área que ocupa quase 20% de Boipeba. Pelo andar da carruagem, a licença do INEMA foi contestada por ser a ilha uma das porções mais preservadas da Mata Atlântica e abrigar populações tradicionais de quilombolas e pescadores.
Daí em diante, várias outras dificuldades retardam a pretensão dos investidores devido às incertezas sobre a possibilidade de impacto ambiental da Mata Atlântica, composta por áreas de restinga e de vegetação nativa como a mangaba, a mussurunga e os extensos manguezais, vindo a comprometer os modos de vida e produção tradicional dessas comunidades.
Uma parcela da população de Boipeba se coloca contra o projeto por temer ameaças irreversíveis ao que a ilha tem de mais rico, bonito e original: sua biodiversidade e potencial turístico, principal ativo econômico da ilha e justamente o que pode ser irreversivelmente ameaçado.
Por outro lado, boa parte da comunidade de Cova da Onça se coloca a favor do empreendimento como oportunidade de geração de mais empregos e atracão de novos investimentos públicos e privados, como aconteceu com Morro de São Paulo.
O que salta aos olhos é que, do jeito que está, não vai ser na queda de braço entre poderes que o conflito será resolvido. As autoridades federais e cientistas têm razão quanto aos riscos presentes e futuros ao meio ambiente e às populações. É inegável que principalmente o turismo se sustenta na sustentabilidade ambiental e humana.
Os gestores que estiverem mais próximos do conflito ora instalado, podem melhor mediar os dois lados, pesando impactos cumulativos desse e de outros projetos que, com certeza, serão atraídos para a ilha. É importante avaliar a segurança alimentar das comunidades tradicionais, pescadores, mariscadores e catadores extrativistas que trabalham na sustentação de suas famílias e do turismo, inclusive na extensa área do projeto.
Os que defendem o empreendimento também têm razão quando analisam que as condições socioeconômicas do arquipélago de Cairu podem melhorar como um todo ao atrair mais investimentos privados que, consequentemente, atraem outros investimentos públicos importantes como abastecimento e tratamento de água com mais capacidade de armazenamento e abastecimento, coleta e destinação do lixo, educação emancipatória de preparação de mão de obra qualificada, aumento da infraestrutura de saúde.e de segurança, mobilidade em transportes e, sobretudo, rede de apoio na conservação e preservação ao delicado ecossistema do arquipélago.
O maior argumento é desenvolvimento econômico atrelado ao desenvolvimento humano. Possivelmente esse polêmico projeto seja o início de uma nova forma de gerir o patrimônio público pela qual se tenha a aprender com o diálogo entre as partes mediado por um gestor ou gestora experiente como comprovadamente se tem em Cairu e na região.
Ó, MEU PAI!
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